Esta semana tenho o prazer de vos trazer uma entrevista com a fotógrafa Rita Carmo. Profissional há mais de 20 anos, fotografou os maiores nomes da música que vieram a Portugal. Se há algum fotógrafo que desejem ver nestas páginas, enviem-me um email e farei os possíveis para o incluir.
Como começaste no mundo da fotografia?
Comecei por acaso. Estudava Design de Moda no IADE e Design de Comunicação na ESBAL quando comecei a fotografar a preto e branco com mais regularidade. Acabei por me especializar (no curso de Moda) em Fotografia de Moda e, daí a ser “recrutada” para trabalhar no Jornal BLITZ, foi um pequeno passo.
Penso que é preciso fotografar muito. Eu própria não tive formação em fotografia. Tive formação em muitas áreas próximas, mas em fotografia não. Essencialmente acho que é preciso haver uma sensibilidade estética e rigor técnico. Hoje em dia, experimentar não exige grande investimento, como acontecia há 20 e tal anos atrás. Acho que o que é mesmo importante é trabalhar muito. Quer se faça formação, quer não se faça.
Quais os principais obstáculos que enfrentaste ao longo da tua carreira?
Não sinto que tenha tido grandes obstáculos. Sempre fui muito optimista, e para mim todos os obstáculos que tive serviram para me dar mais força. A teimosia pode ser um defeito terrível, mas tem vantagens! Mas nunca me deixei ficar parada, sempre me impus projectos a mim mesma.
Quais são os ingredientes para ter sucesso como fotógrafo?
Talento, rigor, bom senso, paciência, calma, teimosia, coerência, disponibilidade, poder de adaptação a todas as situações. E gostar de fotografar, claro!
Onde encontras inspiração?
Por estranho que pareça em muitas coisas que não a fotografia. No cinema, na música, em videoclipes, em espaços incríveis onde tropeço, na luz e, claro, nas pessoas!
Que fotógrafos consideras como referência no teu trabalho?
Anton Corbijn, Annie Leibovitz, Sebastião Salgado, Joel-Peter Witkin, Dean Chalkley, Mark Seliger… admiro-lhes o trabalho e o estilo.
Fazes pós-produção das tuas imagens? Consideras que há limites?
No meu trabalho, faria uma separação entre a parte de foto-reportagem e os retratos de músicos. No primeiro caso não há pós-produção. É reportagem pura e dura, e o máximo que se faz é equilibrar a luz (muito contrastada nos concertos) e equilibrar a temperatura de cor. Os muitos anos de trabalho em diapositivo treinaram-me a não reenquandrar praticamente. No retrato, é um pouquinho diferente. Muitas vezes tento dar ao ambiente calor, ou frio; mas pouco mais do que isso.
Em que é que a fotografia de espectáculo é diferente das outras disciplinas fotográficas?
Ahaha! É essencialmente nocturna! Muito rápida, muitas cores, muito som e muito barulho. Muito bonita também. Muitos extremos!! É uma linguagem muito própria, que exige tecnicamente rapidez na medição da luz e mão rápida no disparo. No meio de tudo isso, convém ter muita calma.
Que conselhos darias a alguém que se está a iniciar na profissão de fotógrafo?
Talento, persistência e originalidade. Procurar ideias, modos novos de ver. Não ir atrás dos outros só “porque sim”; ou porque “é fixe ver concertos”. Ser-se correcto e coerente. E não desistir.
Rita Carmo é fotógrafa da Revista (ex jornal) Blitz desde 1992, tendo-se especializado em fotografia de concertos e retratos de artistas. É a fotógrafa de referência nesta área em Portugal. Tem dois livros publicados: “Altas Luzes” (Assírio & Alvim, 2003), e “Portugal XXI – Imagens de Sons Portugueses” (2008). Já viu o seu trabalho exposto diversas vezes, e é professora no curso de fotografia da Restart.
Deixe um comentário