Como começou no mundo da fotografia?
Tal como muitos dos meus amigos, comecei jovem. Tinha 14 anos quando pus as mãos numa Voigtlander 35mm numa venda de garagem de um vizinho. Em pouco tempo já gastava toda a minha mesada em rolos fotográficos e em revelações. Isso levou-me à minha primeira SRL, uma Pentax Spotmatic antiga mas muito estimada. Eu queria algo mais moderno, com funcionalidades e automatismos, mas só tínhamos dinheiro para uma mais velha. Na verdade, estarei sempre grato por as minhas primeiras câmaras serem completamente manuais e livres de distracções.
É preciso ter formação formal em fotografia?
Eu não tenho. A minha formação é em teologia, e a minha primeira carreira foi como comediante. Penso que podes aprender muito numa escola de arte mas, tal como com qualquer educação, provavelmente vais passar o resto da vida a desaprender e a encontrar o teu caminho por tentativa e erro. Se voltasse atrás e fizesse tudo de novo, teria ido para uma escola de gestão (business), ou teria aprendido a pintar por exemplo. Não tiraria um curso de fotografia.
Quais os principais obstáculos que enfrentou ao longo da carreira?
Penso que ainda estou a enfrentar o obstáculo que todos enfrentamos – como fazer arte que reflicta a minha visão actual, e como conseguir viver fazendo isso. Começamos por perguntar “o que é que o mercado quer?” ou “pelo que é que as pessoas me vão pagar?”, e são questões erradas. O que queres fazer? Fá-lo, e depois faz o mesmo que o resto de nós, que é lutar por uma forma de te pagarem por isso. Ou então encontra uma forma de sobreviver sem ser com a fotografia, e cria as fotografias no teu tempo livre. A vida é curta demais para fazeres as fotos que os outros querem. Cria a tua arte. Comigo é algo que acontece cada vez mais, à medida que direcciono o meu negócio para o ensino e a edição de livros, e uso o tempo e dinheiro que isso me dá para fazer fotos para mim, não para clientes. A melhor coisa que podemos fazer é começar a criar um público. Twitter, Facebook, Blog, Instagram, G+, seja o que for, constrói um público.
Quais são os ingredientes para ter sucesso como fotógrafo?
É uma pergunta impossível de responder. Uma questão mais interessante e mais útil é “o que significa para ti teres sucesso como fotógrafo?”. Cada pessoa responderá de forma diferente, mas terás de a responder antes da primeira. Para alguns, sucesso é dinheiro ou popularidade, e para outros é apenas a liberdade para criar arte sem ninguém ditar as regras. Uma vez que saibas o que queres, estarás mais próximo de saber de que ingredientes precisas. Suspeito que incluam excelência no teu ofício, vontade de explorares a tua visão, e perseverança. Não conheço ninguém que ache isto fácil. Não é um trabalho fácil e, se apenas queres sobreviver, há formas mais fáceis. Uma vontade de trabalhares que nem um cão vai levar-te mais longe do que confiares no teu talento para seres descoberto.
Ao ler os seus livros e ver os seus vídeos, “visão” parece ser uma das suas palavras preferidas. Pode explicar porquê?
As fotografias são algo maravilhosamente subjectivo. São uma interpretação do mundo que vemos e experienciamos. A visão, ou intenção, é importante porque informa as nossas decisões técnicas. Se sabes como pensar ou sentir algo, podes usar a técnica intencionalmente para criar uma estética que o reflicta. Se nem sequer sabes o que estás a ver, o que pensas, ou sentes, não vejo como possas fazer fotografias significativas. As pessoas não se emocionam por uma foto estar nítida, ou ser muito grande, mas por ter algo do artista incluído nela. Se souberes qual é a tua visão, e se souberes como queres que as pessoas vejam ou se sintam em relação à tua fotografia, estarás mais perto de saber como a fazer.
Pode partilhar a sua visão sobre a inspiração e como ela surge?
É difícil falar sobre inspiração, porque as pessoas querem dizer coisas diferentes quando se referem a ela. Para a maioria, parece querer dizer que “tiveram uma ideia muito boa”, como se viesse do nada. Mas as ideias não vêm do nada. Vêm de reunirmos várias influências e de deixarmos o nosso cérebro arrumá-las. O cérebro parece fazê-lo melhor quando lhe pedimos isso, e é por isso que os artistas – desde poetas a pintores – dizem há muito que a inspiração vem do trabalho. Confiar em “estar inspirado” antes de fazermos o trabalho é uma armadilha. Trabalha. Começa a fotografar. A inspiração aparece, uma vez que comeces a trabalhar, não antes. Parte desse trabalho é estudares o teu ofício, olhares para o trabalho de outros e aprender com ele, e seres uma pessoa curiosa.
Qual é a sua opinião sobre a pós-produção? Até que ponto se deve ir?
Vai até teres terminado. Depois para. Eu faço o que faço porque quero fazer arte. Não acredito que haja receitas para a arte, nem que haja regras. Tenho a minha própria maneira de trabalhar, que envolve cada vez menos pós-produção. Uso o Lightroom para refinar a minha visão de formas que a câmara não consegue. Aprendi o meu ofício em adolescente numa câmara escura, por isso faço dodge and burn, e adiciono ou retiro contraste. Também mexo nos tons e cores. Pessoalmente, não sou fã de grandes modificações. Se estiver distraído pelos artifícios, não reparo na arte.
Que conselhos daria a alguém que se está a iniciar na fotografia?
Arranja uma câmara. Qualquer câmara. Mas preferencialmente de filme e de 35mm, completamente manual. Usa uma lente, e pelicula a preto e branco. Passa um ano a fazer fotografias sem o espalhafato digital, sem cor, sem novos equipamentos distractivos. Apaixona-te pelas fotografias propriamente ditas, não pela confusa indústria fotográfica. Se no primeiro ano tiveres de comprar livros, compra livros de fotografias dos mestres desta arte, não livros que ensinem a fazer. Eu escrevo e publico livros sobre fotografia, e eles têm o seu lugar. Mas é fácil distraíres-te com a necessidade de ter mais um livro, quando o que deverias fazer era sair e fazer fotografia atrás de fotografia, e depois estudares o teu trabalho. O que funciona? O que não funciona? Pelo que somos atraídos? Apaixona-te pelas próprias fotografias, e não pela indústria. E não caias na ideia que equipamentos mais novos, mais brilhantes, e melhores, farão melhores fotografias. Se não consegues fazer trabalhos belos com uma velha 35mm SRL, não conseguirás fazê-los com os mais recentes equipamentos e lentes com uma faixa vermelha.
David duChemin é um fotógrafo humanitário, trabalhando por encomenda, autor de livros, educador, e fundador da Craft & Vision. Quando não está à procura de aventuras e de beleza vive em Vancouver, no Canadá.
Tem vários livros publicados, muitos dos quais já li e aconselho: Ver e comprar na Amazon UK | Amazon US.
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